HOMEOPATIA

As Teorias e Os Princípios da Homeopatia


No séc V a.c. o Médico grego Hipócrates concluiu que a doença era provocada por forças naturais e não pela intervenção divina, e que a capacidade de os doentes se curarem a si próprios devia ser encorajada. As teorias médicas da época baseavam-se na Lei dos Contrários, que defendia o tratamento das doenças, com substâncias que produzissem sintomas a ela contrários ou opostos. A diarreia, por exemplo, deveria ser tratada com uma substancia que provocasse obstipação, como o hidróxido de alumínio.

Hipócrates, pelo contrário, desenvolveu o emprego da Lei da Semelhança, baseada no princípio " curar o semelhante pelo semelhante ". Segundo esta teoria, substâncias capazes de produzir sintomas de doenças em pessoas saudáveis podiam ser usadas para tratar sintomas semelhantes em indivíduos doentes. Por exemplo, o Veratrum album, considerado eficaz contra a cólera, se tomado em doses exageradas é fortemente purgativo e provoca desidratação - precisamente os sintomas da própria cólera. 

Entre os séc. I e V d.c., os romanos deram um impulso à medicina. Introduziram novas plantas medicinais nas farmacopeias, melhoraram a higiene pública e estudaram a estrutura e as funções do corpo humano, embora limitados pelo tabu que proibia a dissecação de cadáveres.

Os conhecimentos médicos existentes na época foram coligidos por Galeno, um médico, anatomista e fisiólogo romano. Adoptou diversos princípios gregos antigos, incluindo a doutrina aristotélica dos " quatro humores", segundo a qual o corpo humano é constituído por quatro líquidos, ou humores - sangue, bílis branca, bílis negra e fleuma -, sendo necessário manter entre eles um equilíbrio perfeito para garantir a vitalidade e a saúde.

Quando apareceu o físico e alquimista suiço Paracelso, retomou-se a antiga doutrina grega da Teoria das Assinaturas, que se baseava no princípio de que o aspecto exterior de uma planta - a "assinatura" de Deus - indicava a natureza das suas propriedades curativas. Por exemplo, a Cheledonium majus era usada no tratamento de problemas do fígado e da vesícula porque a seiva amarelada lembrava a bílis.

Paracelso sustentava que a doença se devia a factores externos, como a água e alimentos contaminados, e não a forças místicas, e desafiou os seus contemporâneos a reconhecerem que toda a cura era sempre obtida por um meio interno, uma espécie de " força curativa natural", defendendo que a prática da medicina se devia basear na observação detalhada e no " conhecimento profundo da Natureza e da sua obra". de acordo com as suas teorias, todas as plantas e metais continham ingredientes activos que podiam servir para curar doenças específicas.

Partindo de experiências práticas e não da alquimia, lançou as bases da química e da moderna terapêutica com medicamentos, introduzindo novas substâncias como ópio, enxofre, ferro e arsénico, no repertório da época.

A sua exploração das propriedades químicas e medicinais de muitas substâncias, aliada à defesa do conceito aristotélico " curar o semelhante", transformaram Paracelso numa figura fundamental no desenvolvimento da homeopatia.

Seguindo essa filosofia, nos tempos mais modernos, o alemão Samuel Hahnemann que principiou a sua carreira médica em 1780. exerceu medicina durante nove anos, período durante o qual se foi sentido cada vez mais decepcionado com os métodos rudimentares utilizados. Em artigos que escrevia para aumentar os seus rendimentos, Hahnemann atacou as práticas médicas da época, preconizando em sua substituição uma boa higiene pública, a melhoria das condições de habitação, uma alimentação mais correcta, ar puro e exercício físico.

As suas convicções acabaram por fazê-lo abandonar a sua carreira. Mais tarde, escreveria que tinha sido extremamente penoso trabalhar " sempre às escuras", sem princípios sólidos em relação à saúde e à doença. Pois, nessa altura, a Europa sofria grandes transformações sociais e políticas. A Revolução Industrial e o Iluminismo trouxeram importantes descobertas tecnológicas e científicas e o aumento da liberdade de pensamento e expressão. O clima intelectual estimulou progressos no estudo da medicina, incluindo a extracção dos ingredientes activos de algumas plantas medicinais, como a morfina da papoila dormideira em 1803. Foi em 1790, ao traduzir tratado sobre Matéria Médica, da autoria do Dr. William Cullen, um professor , médico e químico escocês, que Hahnemann resolveu iniciar investigações que seriam determinantes para o desenvolvimento da homeopatia. No seu tratado, Cullen afirmava que a quinina, quando isolada da Chinchona officinalis era um bom tratamento para a malária por ser um adstringente. Hahnemann sabia que outros adstringentes mais fortes não exerciam qualquer efeito sobre a malária. Resolveu tomar ele próprio quinina e deu início à primeira " prova". embora não sofresse de malária, começou a desenvolver os sintomas da doença. A cada nova dose da substância, os sintomas reapareciam e persistiam durante umas horas, mas desapareciam sempre que o tratamento era interrompido. Hanhemann testou a quinina em mais pessoas , anotando em pormenor as suas reacções, não as deixando ingerir alimentos fortes como especiarias, álcool ou café, os quais poderiam falsear os resultados. Repetiu a experiência com outras substâncias utilizadas na preparação de medicamentos, como arsénico e beladona, e a partir dos resultados obtidos elaborou o " quadro clínico" dos efeitos de cada remédio.

Após mais seis anos de experiências, Hahnemann começou a fazer os seus ensaios em doentes. Antes da prescrição, realizava um exame rigoroso e tomava nota dos sintomas existentes. Fazia-lhes perguntas relacionadas com os seus estilos de vida e outros factores que podiam piorar ou melhorar o seu estado.

Obedecendo ao princípio " curar o semelhante pelo semelhante", Hahnemann comparava então os sintomas individuais com o quadro clínico de um remédio e receitava o tratamento correspondente. O trabalho de Hahnemann deu origem a um novo tipo de medicina. Em 1796 publicou a primeira obra sobre o tema, intitulada Novo Princípio para Determinar os Poderes Curativos das Plantas e Alguns Estudos de Princípios Anteriores..

Chamou a esse sistema novo "Homeopatia", do grego homeo, que significa " semelhante" e pathos "doença". Em 1810 enunciou os seus princípios em Órgão da Medicinal Racional e dois anos depois começou a ensinar homeopatia na universidade de Leipzig. Ao longo da sua vida, Hahnemann investigou cerca de 100 remédios e continuou a desenvolver e aperfeiçoar a teoria e a prática do sistema.

A comunidade médica recebeu com grande cepticismo as teorias de Hahnemann que, por sua vez, continuava a criticar fortemente a prática médica convencional. Ficou conhecido como o " furacão enraivecido " devido aos discursos intempestivos e críticas sarcásticas que fez em conferências realizadas em Leipzig. Também provocou a ira dos farmacêuticos ao receitar apenas um medicamento de cada vez, o que contrariava o hábito em vigor ( muito mais lucrativo ) de prescrever combinações dispendiosas de uma série de remédios.

No século XIX, a homeopatia espalhou-se rapidamente por toda a Europa e também à Ásia e às Américas. Nos Estados unidos , o Dr. Constantine Hering e o Dr. Jmes Tyler Kent, foram os responsáveis pela popularização da terapêutica e pela introdução de novas ideias e práticas. Quando Hahnemann morreu em 1843, a homeopatia encontrava-se já firmemente implantada em muitas regiões do mundo, embora continuasse a enfrentar a resistência e a desconfiança dos defensores da Medicina convencional. De 1860 a 1890, a homeopatia floresceu, tendo sido inaugurados diversos hospitais homeopáticos e escolas e testados muitos remédios novos, ampliando consideravelmente a Matéria Médica existente. Os discípulos de Hahnemann eram, em geral, médicos que se sentiam desiludidos com a medicina convencional, depois de terem eles próprios sido tratados por ela, incluindo um médico inglês, Frederick Quin que sofria de cólera e se curou com o remédio Camphora. Depois de visitar Hahneman na Alemanha em 1826, Quin introduziu a homeopatia no Reino Unido e fundou o primeiro hospital homeopático da cidade de Londres no ano de 1849. Durante a epidemia de cólera de 1854, a taxa de mortalidade nesse hospital foi inferior a metade verificada nos hospitais convencionais. Essa informação foi mantida em segredo pelo Conselho Nacional de Saúde, com o fundamento de que " os números podiam sancionar uma prática que se opõe à manutenção da verdade e ao progresso da ciência" o que mostra até que ponto a classe médica dominava as instituições sociais.

A predominância da medicina convencional também era uma realidade nos EUA. Nos finais do século XIX, a homeopatia representava uma parte significativa da prática médica e 15 por cento dos médicos eram homeopatas. Na primeira metade do século XX, porém, a homeopatia foi largamente ofuscada pela medicina convencional, em parte devido à influência crescente da American Medical Association. A Britsh Medical Association desemponhou um papel semelhante no Reino Unido e as divisões que surgiram no seio da homeopatia contribuíram ainda mais para o enfraquecimento da sua mensagem. Os que seguiam à risca as teorias originais de Hahnemann e Kent praticavam uma homeopatia " classica" ou "Kentiana ", sustentando que as características emocionais e os sintomas físicos de uma pessoa deviam ser sempre levados em conta e declarando-se a favor de " potencializações" elevadas. Liderados pelo Homeopata britânico Dr. Richard Hughes, vários homeopatas tinham começado a receitar com base apenas nos sintomas patológicos e prescrevendo doses pequenas. Esta infeliz cisão na homeopatia permitiu que a medicina convencional lhe passasse à frente e por volta de 1920 os médicos homeopatas tinham praticamente desaparecido do panorama médico do Reino Unido.

O final do século XX trouxe o ressurgimento da popularidade da homeopatia, provavelmente devido à decepção das pessoas com certos aspectos da medicina convencional. Em muitos países, em particular na Europa Central , a sua popularidade nunca chegou a decrescer tanto como no Reino Unido ou nos EUA, embora tenham surgido práticas diferentes. A clássica prescrição de um remédio único continua a prevalecer em todo o mundo, embora na Alemanha e na França a homeopatia complexa ou polifarmácia ( emprego de uma combinação de um remédio ou vários remédios) também seja popular. Na Austrália existe uma forte ligação à Naturopatia, sendo os remédios homeopáticos, muitas vezes integrados na prática naturopata. Na India, os homeopatas há muito que trabalham, com êxito, ao lado da medicina tradicional Ayur-Védica e da medicina convencional . Nos anos 90, cursos ministrados por professores britânicos , reacenderam o interesse pela Homeopatia na Europa Oriental e na Rússia ela continua a ser divulgada e desenvolvida. na América do Sul, a homeopatia é ensinada em escolas de medicina, enquanto que nos EUA ela atravessa um período de enorme popularidade. As estatísticas revelam que mais de 2,5 milhões de americanos utilizaram remédios homeopáticos em 1990 e que mais de 800 000 preferiram consultar médicos homeopatas.


Teorias e Princípios Básicos


Quando, Hahnemann falava da energia curativa, tinha a ver com a sua experiencia em que verificou que quanto mais elevado fosse o nível de diluição, ou potencia dos remédios, mais eficaz seria a sua capacidade de cura e deduzira que haveria uma espécie de energia no organismo que reagia às minúsculas provocações dos remédios, permitindo que este se curasse a si próprio. Hahnemann viria a chamar a essa energia “ "vital force"” do organismo, responsável pelo funcionamento saudável do corpo e pela coordenação das suas defesas contra a doença. Se essa força fosse perturbada por um estado de tensão, dietas, falta de exercício, problemas hereditários ou até mesmo alterações ambientais, surgiria a doença.

Os remédios homeopáticos ajudam a apressar a recuperação, estimulando a “ "vital force”", que embora enfraquecida é capaz de se recompor. Dai a escolha do remédio mais adequado, possível ao quadro de sintomas. É por esse motivo que o exame homeopático toma em conta o carácter, os níveis de tensão, estilo de vida, nível de exercício, a dieta, as preferências alimentares e a história clínica familiar da pessoa e os factores gerais, como o tempo, com estes conhecimentos precisos dos pontos fortes e fracos do doente, permite a nós Médicos Homeopatas prescrever o remédio mais indicado e decidir qual a potencia adequada.


Desenvolvimento da Homeopatia


As primeiras experiências realizadas por Hahnemann em si próprio constituíram, sem dúvida, alguns dos primeiros ensaios clinicos jamais efectuados. A investigação médica é, hoje, muito sofisticada, mas foram raros os testes rigorosos feitos à eficácia da homeopatia até à década de 80. Enquanto os grandes laboratórios farmacêuticos investirem tanto na investigação de novos medicamentos, é difícil de conseguir financiamento para levar a cabo ensaios homeopáticos. Além disso, os testes homeopáticos não têm a mesma facilidade de acesso às instalações existentes em universidades e hospitais ou investigadores. Outra dificuldade é o facto de nos ensaios homeopáticos a avaliação do remédio adequado a cada doente depender grandemente do próprio médico homeopata. Uma das questões mais importantes a testar é a importância do efeito de placebo. Os ensaios clínicos efectuados pelo Dr. D. Taylor-Reilly em 1986, em glasgow na Escócia, demonstraram melhoras claras e estatisticamente importantes em doentes tratados por métodos homeoáticos, as quais não podiam ser atribuídas simplesmente a um placebo. Das duas uma: ou a homeopatia resultava efectivamente ou os ensaios clínicos não funcionavam. Também se fizeram meta-análises, nas quais um grande grupo de ensaios semelhantes são analisados como se constituíssem apenas um estudo maior, muitas vezes produzindo resultados mais significativos do que os obtidos individualmente por ensaios em pequena escala. das meta-análises efectuadas até à data, três das mais importantes foram conduzidas pelo prof. J. Kleijnen e publicadas no British Medical Journal em 1991; pelo Dr. J.P. Boissel , encomendada pela Comissão Europeia e publicada em Bruxelas em 1996; pelo Dr. K. Linde e outros, publicada em The Lancet em 1997. Essas três meta-análises foram realizadas por investigadores cépticos e independentes, nenhum dos quais era homeopata, e todos concluiram que, apesar do seu interesse ser demonstrar o contrário, a homeopatia tem um efeito que está acima e para além de um simples placebo. importantes ensaios homeopáticos em medicina veterinária, levados a cabo pelo veterinário homeopata britânico Mr C. Day, em 1984, sugerem que a acção da homeopatia não pode ser atribuída unicamente ao efeito de placebo na medida em que resulta com animais e os animais não são susceptíveis a esse tipo de influência.

Vários ensaios individuais comprovaram o êxito do tratamento homeopático em certas enfermidades, como por exemplo um estudo, efectuado pelo Dr. R. G. Gibson em Glasgow, de 1980, do tratamento homeopático de artrite reumatóide, ou um ensaio realizado na Nicarágua, em 1994, pelo pediatra americano Dr. J. Jacobs, sobre o tratamento homeopático da diarreia. Há testes muito positivos à eficácia da homeopatia nas dores de dentes e na dentição, incluindo um estudo francês de 1985, realizado em Lyon pelo Dr. P. Berthier , e um estudo alemão publicado em 1994 pelo Dr. A. Vestweber na Erfahrungsheillkunde. Quanto ao aspecto teórico, estão em curso estudos que procuram uma explicação cientifíca para o facto de um remédio homeopático ser mais eficaz depois de extremamente diluído que nem uma única molécula do ingrediente básico do remédio se encontre na água. Contudo, descobertas recentes sugerem que a água é capaz de " recordar " uma substância , ou que esta deixa nela uma "marca molecular ", como sustenta o cientista Dr. S. Y. Lo, e outros, num estudo levado a cabo nos EUA e publicado em Modern Physics Letters em 1996.


Será uma Alternativa eficaz


Paralelamente aos ensaios clínicos, têm-se feito muitos estudos nos quais se pede aos doentes que descrevam o resultado do tratamento a que foram submetidos. Experiências realizadas no Glasgow Homeopathic Hospital , na Escócia, em doentes que faziam tratamentos convencionais, sem qualquer êxito, a uma série de doenças como a depressão, esclerose múltipla e cancro, registaram que muitos optaram por abandonar os medicamentos convencionais. Embora esses estudos não sejam clinicamente controlados, podem ter implicações importantes, não só na saúde dos doentes, como também , no financiamento dos serviços médicos. Entre as possíveis consequências regista-se o emprego de medicação mais económica, uma diminuição dos internamentos hospitalares e a redução dos custos envolvidos no tratamento dos efeitos secundários da medicação convencional. A abordagem integrada, pela qual se optou no hospital de Glasgow, empregando entre homeopatia e cuidados médicos convencionais, foi considerada por 90 por cento dos doentes como melhor ou muito melhor do que a assistência médica habitual. Um relatório da Faculty of Homeopathy do Reino Unido, datado de 1998, defende que os ensaios clínicos demonstram de forma consistente os benefícios da homeopatia em termos da satisfação dos doentes e da economia de fundos.

Nos países ocidentais nota-se, hoje, a tendência para rejeitar muitos aspectos da medicina convencional, baseada em substâncias químicas, e simpatizar com a ideia de uma forma " holística" de tratar a pessoa como um todo. Existe um interesse crescente da classe médica pela exploração da possibilidade de integrar terapêuticas complementares, incluindo a homeopatia, nos seus tratamentos. Isso deve-se, em parte, ao aumento dos custos com a saúde, aos efeitos secundários alarmantes de alguns medicamentos e ao insucesso do tratamento convencional de algumas doenças, como o cancro. Contudo, se a integração vier a ser uma realidade, serão necessários níveis elevados de formação, treino e investigação no seio da homeopatia. O grande objectivo será assegurar que a homeopatia seja proporcionada ao público por profissionais bem qualificados e reconhecidos, que trabalhem na observância de um rigoroso código de ética que proteja o doente.


A Homeopatia Pediátrica


Uma grande dificuldade com as crianças, é como entender o querem dizer. Dentro do trabalho homeopático, muito mais difícil, pois necessitamos de traduzir e transformar as rubricas reportoriais em tal linguagem. A homeopatia é muito apreciada pelos pais de crianças pequenas, pois permite-lhes tratar doenças comuns dos filhos sem os efeitos secundários de alguns medicamentos convencionais . A homeopatia resulta muito bem com as crianças, porque o sistema imunitário destas e todo o organismo em geral reage também muito bem. As doenças de infância testam a força vital preparando assim o sistema imunitário para se confrontar, no futuro, com doenças mais graves.


" Dentro de cada doente encontra-se um médico, e nós, profissionais , obtemos os melhores resultados quando levamos os nossos doentes a entrar em contacto com o médico que existe dentro deles. " - Médico e Filósofo Albert Schweitzer.